Brasileiros voltando de Portugal: veja os dados e os motivos

Recentemente a Revista Veja publicou uma reportagem que acabou gerando um certo pânico nas pessoas que pensam em se mudar para Portugal. A revista aponta, como ela mesma diz, as desilusões e o drama de experiências frustradas pela mudança de vida dos brasileiros voltando de Portugal.
06 nov 2019 min de leitura

Claro que existem pessoas que resolvem voltar para o Brasil por não terem experiências muito boas em Portugal, mas não podemos generalizar. A publicação da revista faz referência a uma parcela mínima da população brasileira residente em Portugal insatisfeita com a mudança e não apresenta de maneira clara ao leitor alguns dados sobre os brasileiros voltando de Portugal que precisam ser avaliados. Digo parcela mínima, porque é necessário entender e fazer uma comparação bem básica: taxa de ida e taxa de retorno. 

Dados importantes sobre o número de brasileiros voltando de Portugal

SEF (Serviço de Estrangeiros e Fronteiras), órgão português responsável pela imigração no país, disponibiliza em seu site oficial, relatórios com dados importantes. No relatório anual mais recente, que se refere ao ano de 2018, podemos avaliar que a população estrangeira residente no país aumentou 13,9% em relação ao ano anterior, 2017. Isso, totaliza 480.300 cidadãos estrangeiros e titulares de autorização de residência. E segundo o SEF, este é o número mais elevado desde 1976.

Destes 480.300 cidadãos estrangeiros e titulares de autorização de residência, 21,9% são cidadãos brasileiros, o que equivale a 105.423 brasileiros residindo no país. Conforme o gráfico do relatório oficial do SEF.

grafico imigracao sef 2018

Imagem: Relatório de Imigração, Fronteiras e Asilo/ SEF 2018

Tomando por base apenas as novas autorizações de residência, em 2018, foi registrado um aumento de 51,7%, ou seja, um total de 93.154 novos residentes em Portugal. Destes, 30% (28.210) são cidadãos brasileiros.

Os números acima mostram a dimensão da comunidade brasileira e de imigrantes em geral vivendo em Portugal, certo?

Agora vamos aos dados da OIM – Organização Internacional de Imigração disponibilizado pelo programa Arvore – Apoio do Retorno Voluntário e a Reintegração para analisar a taxa retorno dos imigrantes ao país de origem.

Segundo o relatório oficial, de setembro de 2016 a dezembro de 2018, eles receberam 1241 inscrições, das quais 707 retornam ao país de origem. Destes, 638 são brasileiros, e considerando apenas os dados do ano 2018, temos 352 cidadãos que retornaram ao Brasil com o apoio da OIM.

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Imagem: Relatório ARVORE 2018: Apoio ao retorno voluntário e à reintegração

Viu como a conta não fecha e porque disse ali em cima que apenas uma parcela é mínima quando o assunto é brasileiros voltando de Portugal? É necessário fazer sim essa comparação.

Por que há brasileiros voltando de Portugal? Os principais motivos

Não é por que Portugal abriu suas fronteiras para receber imigrantes que você vai optar por ele por uma questão de praticidade ou facilidade. Apesar do Brasil ter sido colonizado por portugueses e nossa língua ser a mesma, as culturas são completamente diferentes. E isso acaba chocando algumas pessoas.
 

Quando você muda de país, você precisa estar aberto a novas experiências e é você que precisa se adaptar ao país, ao povo e a cultura. Não são eles que precisam se adaptar a você. Então, não é por que no Brasil funciona assim ou assado que aqui vai ser igual. Não é igual. E você precisa ter esse entendimento muito claro na sua cabeça antes de decidir emigrar.

Vou citar três fatores neste texto que fazem com que muitas pessoas acabem desgostando de Portugal e retornando para o Brasil:

1. Dificuldades com documentos

Quando digo que o planejamento é algo indispensável é porque ele é mesmo. O visto para residir legalmente em Portugal deve ser solicitado ainda no Brasil. Não venha para Portugal no risco, achando que pode entrar no país como turistas e que as coisas serão fáceis porque não é assim. Se quem se muda legalmente com o visto enfrenta uma grande burocracia para a obtenção de toda documentação necessária, tais como o NISS, NIF, Autorização de Residência e claro, um emprego, imagina só quem arrisca chegar sem o visto? As dificuldades já começam aí.

A reportagem publicada pela revista Veja fala de pessoas que trabalharam o mês inteiro e simplesmente não receberam no final do mês. Essa situação infelizmente acontece com quem está ilegal e acaba trabalhando sem contrato. E quando isso acontece, essas pessoas não têm nem o direito de reclamar com a polícia ou qualquer outro órgão responsável pela fiscalização. Afinal, não tem nenhum documento que permita residir e nem trabalhar por aqui.

Agora se você está em para Portugal com o visto, solicita a Autorização de Residência conforme é previsto, a chance disso acontecer é baixa.

2. Salários baixos e aluguéis caros

Portugal é um país “barato” para se viver quando comparado a outros países. Isso é verdade. Mas o salário mínimo em 2019 é de 600€ e por conta do boom imigratório e turístico dos últimos anos, os aluguéis estão extremamente altos. Geralmente, o salário mínimo não cobre o aluguel e as contas nas principais cidades.

Então, muitas vezes recorremos a outras alternativas, como os aluguéis de quartos em casas de família ou em residências/repúblicas. Essa é uma alternativa viável para quem está chegando sozinho. Mas se está vindo com toda a família, alugar um quarto acaba não sendo a melhor opção. Nesse caso será necessário alugar uma casa ou apartamento, e os proprietários geralmente cobram um caução e de 1 a 3 meses de aluguel adiantado. Portanto, planejamento financeiro se faz ainda mais essencial.

3. Dificuldade de adaptação

Ali em cima já havia falado, mas vou repetir. É você que precisa se adaptar ao país e não ao contrário.

Apesar de Portugal ter um clima mais ameno, enfrentar 6 meses de inverno e chuva não é tão legal assim. Eu mesma vivia dizendo no Brasil que amava o inverno e detestava o verão. Hoje, morando em Portugal, já penso o contrário.

Como brasileira, continuo afirmando que o nosso povo brasileiro é um dos mais incríveis que conheço e admiro. A nossa alegria, a receptividade e hospitalidade não tem igual. O Europeu de modo em geral é mais frio e seco na relação diária. Isso para nós é extremamente estranho. Os portugueses têm uma maneira que para nós parece meio ríspida de dizer as coisas, mas não é porque estão sendo mal-educados. Esse é apenas um jeito prático e direto. Confesso que eu demorei para me acostumar, mas hoje já acho isso normal. Para quem está chegando essa adaptação pode acabar sendo difícil.

Esses três fatores são aqueles que acho mais difíceis de enfrentar, mas aconselho dar uma lida também num relato pessoal de uma brasileira que voltou para o Brasil. E também aconselho a ler o relato (no qual eu me identifico) que é o por que não volto mais para o Brasil.

Planejamento é essencial

Não basta apenas ter o sonho de morar fora do Brasil. Você precisa pesquisar bastante sobre o país que pretende emigrar e procurar saber como é o clima, como é a cultura, o custo de vida, o modo de vida da população e muito mais. Mudança de país requer muito planejamento, seja para morar em Portugal ou para qualquer outro país. E quando digo planejamento, é tanto financeiro quanto emocional.

Ficar longe da família e dos amigos não é uma tarefa fácil.  A saudade bate forte e é preciso ter uma boa estrutura para isso. Muitas vezes você vai se sentir sozinho e acredite, isso é normal.

Planejamento financeiro é o mais importante. Sempre que me perguntam sobre quanto juntar para começar a vida em Portugal, eu digo que isso é bem difícil de responder. Cada um tem um modo de vida diferente, consequentemente, o custo de vida pode variar bastante.

O que sempre aconselho, é colocar na ponta do lápis todo o custo de vida mensal e ter uma reserva para viver por pelo menos seis meses no país. Isso, porque você vai precisar de tempo para se adaptar à Portugal. Vai precisar de tempo para tirar todos os documentos necessários na sua chegada, procurar emprego etc.

Ajuda para o seu planejamento

Por isso é necessário muito planejamento. Tenha cuidado com informações soltas e duvidosas. Procure fazer pesquisas e perguntas com quem realmente tem propriedade para falar do assunto. Pesquise por dados concretos e de órgãos oficiais. Procure tirar o visto ainda no Brasil. Pesquise todas as informações, tais como, tipos de visto, documentos necessários, como contratar o seguro viagem obrigatório, como alugar casa, educação básica e superior, transporte e muito mais.

Agora que você já viu que o número de brasileiros voltando de Portugal é pequeno e que na maioria das vezes é por falta de adaptação e planejamento, utilize de toda a informação que escrevi aqui em cima para perceber se essa mudança é ou não ideal para você. E boa sorte!



 

Fonte: site Euro Dicas - https://www.eurodicas.com.br/brasileiros-voltando-de-portugal/?utm_source=newsletter&utm_medium=email&utm_campaign=R2D2

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