Descobrir Matosinhos: 10 razões para visitar a cidade à beira-mar

07 set 2020 min de leitura
Com o mar como fio condutor e a arquitetura e o design a definirem o traço, um passeio por Matosinhos leva-nos a enfrentar as ondas ou a admirá-las em pontos de vigia escolhidos a dedo. Neste roteiro, a indústria conserveira não ficou esquecida, assim como a gastronomia e o colorido das bancas do mercado.
 

1. Batismo de surf

Saem de todos os lados, ao longo da marginal da praia de Matosinhos, de fato e prancha de surf na mão, numa correria sôfrega até ao areal. Gilberto Pereira, 46 anos, aventurou-se no bodyboard, pela primeira vez, nestas águas. Neste dia, chega acompanhado da mais nova dos seus três filhos, Teresa, de 12 anos, que já se iniciou nas competições, assim como os irmãos. “Todos começaram aqui, é uma praia muito segura e tem ondas para todos os níveis”, conta. Não é por acaso que ali estão fixadas várias escolas de surf, como é o caso da Onda Pura, uma das mais antigas em Portugal, com 28 anos de existência. Marcelo Martins, o proprietário, estabeleceu-se nestas paragens, precisamente, pelo facto de ser “um sítio muito especial para aprender, com esta proteção artificial do molhe, boas correntes, além de permitir uma evolução rápida que mantém os clientes motivados”. Os campos de férias para os miúdos têm uma procura cada vez maior, e muitos são os turistas, de visita ao Porto, a aproveitar a proximidade da praia para experimentarem uma aula de surf. Esta procura beneficiou toda a zona de Matosinhos Sul, com lojas de artigos de surf e roupa desportiva, assim como restaurantes de comida saudável, um pouco por todo o lado.

2Peixe e marisco à mesa

Foto: Lucília Monteiro

A ligação ao mar faz-se também pela gastronomia. Nas proximidades do Porto de Leixões, abundam os restaurantes de peixe e de marisco. Entre os mais conceituados, está O Gaveto, aberto há 36 anos, liderado pelos irmãos José e João Silva. “Estarmos ao lado do segundo maior porto de pesca do País dá-nos a garantia de termos, todos os dias, bom produto… Na confeção, só temos de não o estragar, e o fato de o nosso chefe de cozinha estar cá desde a abertura fez toda a diferença, houve a continuidade da qualidade do serviço”, sublinha José. Muitos são aqueles que rumam a Matosinhos em busca das iguarias da casa, nesta época, a açorda de santola, a salada de lavagante, os percebes ou os camarões da costa. Na rua Heróis de França, nas múltiplas esplanadas instaladas na calçada, impera o aroma dos grelhados. “Quando aqui cheguei, há 28 anos, isto não existia, mas hoje as pessoas associam este local a um dos melhores sítios para comerem peixe fresco grelhado”, conta Valentim Santos, o proprietário do restaurante S. Valentim, outra garante da boa mesa.

3. A verdadeira pizza napolitana

Pizzaiolo Antonio Mezzero, Campeão do Mundo de Pizza Napolitana. Foto: Lucilia Monteiro

Curioso é igualmente o sucesso alcançado pela pizzaria Antonio Mezzero, numa terra virada para o mar. “Muitas pessoas vêm a Matosinhos pela primeira vez para provar a minha pizza”, diz o pizzaiolo, detentor do título de embaixador da pizza napolitana em Portugal e vencedor, em 2018, do campeonato do mundo de Pizza Napoletana Specialità Tradizionale Garantita / Troféu Caputo. Mesmo durante a pandemia, as filas de clientes formam-se à porta da casa. “A minha pizza parece uma vacina, é impressionante o quanto é procurada”, brinca.

4. À luz das Estrelas Michelin

Em 2016, a Casa de Chá da Boa Nova, liderada pelo chefe Rui Paula, passou a figurar na lista de restaurantes com Estrela Michelin. Foto: Nelson Garrido

Para os apreciadores da alta-cozinha, este restaurante com duas Estrelas Michelin é o destino certo. Projetada por Siza Vieira, encaixada entre os rochedos, na Casa de Chá da Boa Nova já eram habituais as romarias dos amantes da arquitetura, fascinados pelos pormenores do edifício. Quando o tempo está ameno, é imperdível o efeito cenográfico provocado pela descida das janelas, com a sala do restaurante a abrir-se para a envolvente marítima. “É um privilégio trabalhar com este oceano aos pés e com o cheiro a maresia”, descreve Rui Paula, o chefe de cozinha que, em 2014, ficou à frente da casa. “Este local é muito inspirador, aqui consegui criar uma identidade, com um menu de degustação completamente diferente, quase 100% de peixe e de marisco.” Mais recentemente, criou ainda um menu inteiramente vegetariano, além de servir à carta alguns clássicos da casa, como o arroz caldoso de lavagante e a cataplana.

5. Nadar com estilo

Piscina da Quinta da Conceição, desenhada por Siza Vieira. Foto: Fernando Veludo/NFactos

A merecer uma visita, também em Leça da Palmeira, está outra obra emblemática de Siza Vieira, a piscina da Quinta da Conceição (1965), muito procurada pelas famílias, quando as nortadas fustigam as praias (outra piscina desenhada pelo arquiteto, a das Marés, encontra-se, este ano, encerrada para obras). Está inserida num parque público, este projetado pelo arquiteto Fernando Távora, com uma caminhada a desvendar os vestígios do antigo Convento de Nossa Senhora da Conceição, como um claustro, um portão ao estilo manuelino, fontes e estatuária. Este é um dos locais integrados no roteiro de visitas guiadas da Casa da Arquitectura.

6. Mergulho na arquitetura

A Casa da Arquitectura ocupa o edifício da Real Vinícola, lugar ligado ao comércio do vinho. Foto: Ivo Tavares

Instalada no renovado quarteirão da Real Vinícola, em novembro de 2017, a Casa da Arquitectura tem visitas guiadas à disposição, seja aos espaços projetados pelo arquiteto Guilherme Machado Vaz, seja às exposições patentes na galeria e na nave central. “Não é um museu mas uma casa, e o convite para a conhecer é lançado a todos e não só àqueles que têm uma ligação à arquitetura”, descreve Alice Marques, uma das guias do serviço educativo. Até março de 2021, oportunidade para ver a mostra Souto de Moura – Memória, Projectos, Obras, com uma seleção de 40 projetos mais emblemáticos do prémio Pritzker, dos mais recentes aos mais antigos, com escalas muito distintas, cruzando referências e semelhanças, assim como a recriação do seu gabinete de trabalho, com a exibição de alguns dos trabalhos em curso. Maquetas, fotografias, desenhos e outros materiais, explicados com perícia por Alice.

7. Lição de design

A exposição dedicada a Manuel Lapa, patente na Casa do Design. Foto: Fernando Veludo/NFACTOS

Um local improvável, as antigas garagens do edifício da Câmara Municipal de Matosinhos, da autoria de Alcino Soutinho, outrora usado como espaço de exposições, foi em 2016 definitivamente convertido para a apresentação de mostras no domínio do design. A Casa do Design nasceu da parceria entre o município de Matosinhos e a ESAD (Escola Superior de Artes e Design). “A ideia central das exposições, de caráter histórico ou contemporâneo, tem sido privilegiar o design português, existindo sempre uma preocupação didática, para que sejam apreciadas por públicos distintos”, explica José Bártolo, da ESAD. Atualmente, além da exposição dedicada ao artista Manuel Lapa, mostra Tempos Modernos – Cerâmica Industrial Portuguesa Entre Guerras – Coleção AM-JMV, centrada no período entre as duas grandes guerras, patente até 25 de outubro.

 

8. Almoçar entre bancas de peixe, fruta e hortícolas

No Mercado Municipal de Matosinhos, edifício de referência da arquitetura moderna, cabem muitas vidas para lá dos tradicionais produtos nas bancadas, como um polo de escritórios e de incubação de empresas ligadas ao design, no piso superior, ou as lojas no exterior, como a Menino & Moça, de roupa, ou a Velo Culture, de bicicletas. No interior, paira uma variedade de aromas, como o das fornadas do Pão da Terra, uma padaria artesanal e orgânica, ou o da Azeitoneira do Porto. Mesmo ao lado, abriu há poucas semanas o Marsupilami, feito à imagem das coffee shops e restaurantes de comida saudável que o informático António Ribeiro conheceu em Seattle, sede do campus da Microsoft, onde trabalha. “Gostávamos que existisse uma identificação com o mercado e com os produtos frescos que ali se encontram, onde nos abastecemos”, explica Márcia Pires, mulher de António e parceira no projeto.

Para o chefe de cozinha Nuno Neves, esta proximidade com as bancas de legumes e de frutas “é maravilhosa; são os produtos que falam comigo e me dizem qual vai ser o menu do dia, além de a boa disposição de quem cá trabalha ser contagiante”. Quem também reconheceu o potencial do mercado de Matosinhos foram as amigas Luísa Oliveira Santos (conhecida pelo blogue No Mundo de Luísa) e Isabel Tavares (do projeto Comida de Rua). No pós-quarentena, uniram forças no Cantinho do Mercado, onde servem “comida da avozinha, desde empadão de vitela a sopa de peixe”, descrevem. “O ambiente é muito giro e o edifício é lindíssimo”, acrescentam. A concorrência entre a restauração é salutar, acreditam, formada por outras casas como a Mafalda’s, o Sushi no Mercado ou o Mercado Food & Drinks, onde os clientes escolhem o peixe exposto nas bancas fronteiras, para ser preparado na hora.

9. Conservado no tempo

As visitas guiadas à Conserveira Pinhais acompanham todo o processo de produção, que ainda segue o método artesanal tradicional, desde a preparação do peixe aos embrulhos de papel. Foto: Filipe Paiva

Para uma viagem ao passado, descubra-se a fábrica das Conservas Pinhais, no centro de Matosinhos, a celebrar, neste ano, o centésimo aniversário. As visitas, por marcação, acompanham todo o processo de produção que ainda segue o método artesanal tradicional, desde a preparação do peixe (sobretudo sardinha mas também cavala e carapau) aos embrulhos de papel. Caso único na indústria conserveira do País, mas essencial para se manter a qualidade do produto. “António Pinhal Júnior, filho do fundador, era muito cioso e acreditava que o peixe devia ser trabalhado com as mãos”, conta Patrícia Sousa, a diretora de marketing das Conservas Pinhais. Dentro de uma lata, estão 47 passos, um trabalho complexo, levado a cabo por uma equipa maioritariamente de mulheres debruçadas sobre as antigas bancadas de mármore. Cerca de 90% da produção é para exportação, mas a fábrica tem uma loja onde os apreciadores podem comprar as marcas Nuri e Pinhais.

10. Porto de vistas largas

 

O edifício escultórico, a 800 metros da linha da costa, deixa uma forte marca na paisagem da marginal de Matosinhos. Não admira que, desde a inauguração, em 2015, muitos têm acompanhado as visitas guiadas ao Terminal de Cruzeiros do Porto de Leixões, desenhado pelo arquiteto Luís Pedro Silva. O revestimento com azulejos hexagonais (desenvolvidos pela Vista Alegre), dispostos de forma irregular, é igualmente impactante, criando uma espécie de tecido orgânico sobre as paredes. “Para o arquiteto, era importante preservar a memória do lugar e a forma do edifício, com os diferentes braços; integra e faz a ligação às preexistências”, explica Vítor Nunes, um dos guias, a envolver constantemente os visitantes nas questões da arquitetura, sem discurso formatado. “Este terminal é uma homenagem à luz e ao vazio”, descreve. A visita termina no anfiteatro exterior, com a vista arrebatadora a elevar o espírito.

TOME NOTA:

Casa de Chá da Boa Nova > Av. da Liberdade, 1681, Leça da Palmeira > T. 22 994 0066 > ter-sáb 12h30-15h, 19h30-23h > menus de degustação €100 a €190, clássicos a €85 (duas pessoas)

O Gaveto > R. Roberto Ivens, 826, Matosinhos > T. 22 937 8796 > seg-dom 12h-24h

S. Valentim > R. Heróis de França, 335, Matosinhos > T. 22 937 9204 > seg-dom 12h-22h30

Pizzeria Antonio Mezzero > Av. Menéres 390-400, Matosinhos > T. 22 938 2806 > ter-sáb 12h-14h30, 19h-22h30

Onda Pura – Escola de Surf > Aulas, aluguer de material, campos de férias e surf trips. Av. Norton de Matos, Matosinhos > T. 22 937 1824 > aula avulsa €25

Mercado Municipal de Matosinhos > O mercado tem também restaurantes, lojas, uma padaria, um polo de escritórios e de incubação de empresas ligadas ao design. R. França Júnior > T. 22 937 6577 > seg 7h-14h, ter-sex 6h30-18h, sáb 6h-16h30

Casa do Design > Edifício dos Paços do Concelho, R. Alfredo Cunha, Matosinhos > T. 22 939 2470 > seg-sex 9h-12h30, 14h-17h30, sáb-dom 15h-18h > grátis

Casa da Arquitectura > Até março de 2021, mostra uma seleção de 40 projetos mais emblemáticos arquiteto Souto de Moura. Real Vinícola, Av. Menéres, 456, Matosinhos > T. 22 240 4663 > ter-sex 10h-18h, sáb-dom 10h-19h > €8, visitas guiadas €10

Fábrica de Conservas Pinhais > Av. Menéres, 700, Matosinhos > T. 22 938 0042 > seg-qui 9h-13h, 14h-17h, sex 9h-13h, 14h-16h > visita €9 (por marcação)

Terminal de Cruzeiros do Porto de Leixões > R. do Godinho, Matosinhos (portaria junto do monumento Senhor do Padrão) > T. 22 999 0700 > visitas guiadas dom 10h15, 11h15, 12h15, 15h15, 16h15, 17h15 > €5

Quinta da Conceição > Além de parque público, a convidar a passeios, inclui uma piscina, ideal para famílias. Av. Antunes Guimarães 13, Leça da Palmeira > T. 93 522 2148 > piscina seg-dom 9h-19h > €6 a €8 > visitas guiadas ao parque €5 (por marcação visitas@casadaarquitectura.pt)






Fonte: site Visão - https://visao.sapo.pt/visaose7e/sair/2020-09-02-descobrir-matosinhos-10-razoes-para-visitar-a-cidade-a-beira-mar/
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