Pandemia deixa marcas no AL: quedas na faturação superiores a 75% no segundo trimestre

11 dez 2020 min de leitura

Alojamento Local (AL) está a sentir o forte abalo da pandemia da Covid-19, tendo o grosso do setor (cerca de 80% dos titulares e gestores de AL) registado quedas de faturação superiores a 75% durante o segundo trimestre de 2020, em comparação com o mesmo período do ano passado. Esta é uma das conclusões do inquérito aos titulares e gestores de AL do país, segundo um estudo realizado pelo DINÂMIA’CET do Iscte – Instituto Universitário de Lisboa – foram recebidas 868 respostas.

Segundo a investigação, as regiões mais afetadas foram Lisboa e Porto, com quebras de 93% e 87%, respetivamente, seguindo-se o Algarve, com uma perda de 68%. Entre os concelhos fora dos centros urbanos e do Algarve, 56% dos alojamentos registaram menos 75% de faturação, mas 13% conseguiu manter os números do ano anterior ou até mesmo aumentá-los. 

As regiões fora dos grandes centros, apesar da perda, foram as mais resistentes graças ao crescimento de turismo e à mobilidade interna motivada pelos receios do contágio e pela procura de territórios com uma menor densidade populacional e mais ligados à natureza”, afirma Sandra Marques Pereira, coordenadora do estudo e professora do Iscte, citada no comunicado enviado às redações. “Já o Porto e sobretudo Lisboa registaram maiores perdas de faturação na sequência da pandemia e da redução do turismo internacional, comenta.

A dependência financeira dos titulares e gestores das unidades de AL foi outro dos pontos destacados pelo estudo, com 40% a indicar que o rendimento destes espaços representa mais de metade do rendimento do seu agregado. Cerca de um terço (38%) dos inquiridos afirmou não ter outra profissão. 

“Os dados permitiram perceber que esses números sobem se o foco estiver apenas no Porto e em Lisboa. Na capital do país, quase 60% consegue mais de metade do rendimento do agregado familiar através do arrendamento de AL e 49% não tem outra profissão”, lê-se no documento.

O que esperar do futuro?

Quase metade dos inquiridos (46%) acredita que a situação voltará ao normal já em 2021, mas 28% considera que o regresso à realidade vivida pré-pandemia só acontecerá em 2022. Há, no entanto, 12% de participantes que não estão tão confiantes, já que afirmam que a situação não voltará a ser o que era. No Porto e em Lisboa incerteza é menor que no Algarve.

Ainda assim, a maioria dos proprietários (74%) tem a intenção de continuar com o AL de curta duração pelo menos até ao final de 2020. A principal alternativa, sobretudo nas duas principais cidades do país, é o AL de média duração, havendo 17% de inquiridos que pensa optar por um arrendamento de longa duração no mercado privado. 

A opção de colocar os imóveis que estão em AL no mercado arrendamento privado de longa duração gera dúvidas por vários motivos, segundo a coordenadora do estudo, como por exemplo a quebra de rendimentos, a falta de confiança no Estado e na legislação de arrendamento e a perda da licença de AL ou mais-valias de desafectação.

Quem tem casas no AL?

Quase 80% dos titulares e gestores de AL têm um curso superior e 65% têm entre 40 e 60 anos. Verifica-se um predomínio dos empresários em nome individual (69%) e dos titulares/gestores com um número diminuto de ALs - 50% com um AL e 27% com dois a três.

No Porto e em Lisboa, o número de titulares e gestores com ensino superior sobe para 90% e a idade média baixa para os 51 e 50 anos. O Algarve, por outro lado, apresenta a percentagem mais baixa de titulares com ensino superior (56%) e a média de idade mais elevada: 58 anos. 

“A região algarvia parece indiciar uma realidade marcada em grande medida pelo aproveitamento da segunda residência. O AL no Algarve é essencialmente sazonal. Já o Porto e Lisboa apresentam uma realidade própria, marcada por uma maior dependência desta atividade”, conclui Sandra Marques Pereira. 

De acordo com a coordenadora do estudo e professora do Iscte, “a média de idades elevada pode levantar questões relativas à capacidade de reconversão profissional/ocupacional de algumas destas pessoas ou de reconversão das suas fontes de rendimento”. “Por outro lado, a elevada escolaridade, mais visível em Lisboa e Porto, indicia, parcialmente, uma especificidade dos mercados laborais nacionais e da trajetória recente do país: a instabilidade profissional, o crescimento do desemprego durante a crise, associada ao baixo rendimento de muitos licenciados em Portugal, são fatores que podem explicar o potencial atrativo do AL, seja como atividade exclusiva ou como complemento de um rendimento parco”, comenta a responsável. 

Sandra Marques Pereira deixa, ainda, um aviso, salientando a importância, “nomeadamente em matéria de políticas públicas para o setor”, de “compreender toda esta diversidade que, além de geográfica, é também económica, ocupacional e motivacional”.

 
 
Fonte: site Idealista - https://www.idealista.pt/news/imobiliario/habitacao/2020/11/27/45439-pandemia-deixa-marcas-no-al-quedas-na-faturacao-superiores-a-75-no-segundo-trimestre#xts=582068&xtor=EPR-1059-%5Bnews_daily_20201130%5D-20201130-%5Bm-03-titular-node_45439%5D-27037011@3
Veja Também
Outras notícias que poderão interessar
Estamos disponíveis para o ajudar Pretendo ser contactado
Data
Hora
Nome
Contacto
Mensagem
captcha
Código
O que é a pesquisa responsável
Esta pesquisa permite obter resultados mais ajustados à sua disponibilidade financeira.