Temos tido muitos pedidos para melhorar espaços de trabalho dentro de casa

A diretora da Architect Your Home, Mariana Morgado Pedroso, explica em entrevista ao idealista/news como é que a pandemia está a mudar o lar dos portugueses.
19 nov 2020 min de leitura

Ter um escritório em casa é mais importante que nunca – e uma aposta ganha para o futuro. Mais de sete milhões de portugueses estarão em confinamento parcial, com teletrabalho obrigatório, na sequência das novas medidas do Governo para travar a propagação da pandemia, e voltam a confrontar-se com a necessidade de ter um espaço de trabalho adequado em casa. Se ainda há quem tenha de improvisar, há também quem já tenha procurado soluções para resolver esse problema, logo depois do primeiro período de quarentena, tal como explica em entrevista ao idealista/news a diretora da Architect Your Home (AYH) Portugal, Mariana Morgado Pedroso. “Temos tido muitos pedidos de consultoria para melhorar espaços de trabalho dentro de casa”, garante, dando nota do “aumento considerável de pedidos de renovação de habitações próprias, arquitetura de interiores e decoração” com a chegada da Covid-19.

A realidade do teletrabalho e a flexibilidade vieram para ficar e esta será uma das tendências que irá marcar a era pós-Covid-19. A casa do futuro será diferente e terá, necessariamente, de estar mais bem preparada para passarmos mais tempo nela – e também para circunstâncias adversas. O confinamento geral, ou parcial, como o que se vive agora, volta a colocar ênfase na necessidade de se repensarem os espaços para que sejam multifunções, isto é, capazes de incorporar de forma fluída diferentes funções, nomeadamente o trabalho, escola, descanso e lazer.

Mariana Morgado Pedroso confirma essa tendência. “A maior diferença sobre como pensar a nossa casa está relacionada com a possibilidade de partilha do espaço durante o período laboral e escolar. Com isso, quero dizer que será necessário pensar em como o espaço se pode adaptar ao uso simultâneo das várias pessoas que constituem a família, permitindo funcionalidade e privacidade para que todos possam utilizar a casa da melhor forma. Este é o grande desafio das nossas novas casas”, explica a responsável.

A quem deseje melhorar a sua casa para o futuro, deixa a dica de que se pense sempre sob o ponto de vista da melhoria da habitabilidade e funcionalidade, avaliando bem questões como a iluminação natural e artificial, divisão do espaço para criar nichos (de trabalho, por exemplo), e tirar melhor partido deles. E também há mudanças a decorrer a nível empresarial, seja para adaptar os escritórios a esta nova realidade, seja para transformar antigos Alojamentos Locais (AL) em habitações de longa duração.

Que desafios enfrenta a arquitetura neste novo contexto? Que novos projetos surgiram impulsionados pela pandemia? Como perspetiva o futuro? Mariana Morgado Pedroso respondeu a esta e outras questões, numa entrevista que agora reproduzímos na íntegra.

Mariana Morgado Pedroso, diretora da Architect Your Home (AYH)  / AYH
Mariana Morgado Pedroso, diretora da Architect Your Home (AYH) / AYH

Que balanço fazem dos últimos meses? Como é que este novo contexto impactou a vossa atividade?

O balanço que se faz nos últimos meses reflete um pouco o que o país tem atravessado. Há variações no tipo de projetos, mas uma procura idêntica. Por um lado, registámos um aumento considerável de pedidos de renovação de habitações próprias, arquitetura de interiores e decoração. Os projetos de investimento que estavam em curso não pararam, não faria sentido uma vez que são projetos de longa duração. Por outro, notamos que os novos investimentos estão em calha, mas não têm avançado fruto de toda a instabilidade que o mundo está a passar. Muitas pessoas que pretendem investir em património imobiliário, que não estão a considerar projetos de grande dimensão, estão a aguardar, prudentemente, para ver de que forma se desenvolve no setor da construção e imobiliário.

Registámos um aumento considerável de pedidos de renovação de habitações próprias, arquitetura de interiores e decoração

Quais são/foram os principais obstáculos que enfrentaram? 

Sem dúvida que os principais obstáculos estão relacionados com as burocracias, ou com as autarquias ou outras entidades das quais os projetos carecem de parecer, onde tudo ficou mais sobrecarregada e lento após o primeiro confinamento. Aprovar um projeto já era algo demorado, agora só veio a complicar-se mais ainda. Por outro lado, na fase de obra, também sentimos vários obstáculos, sobretudo, no que concerne a entregas de materiais imobiliários. Muitas fábricas e fornecedores interromperam a produção durante longos períodos e agora dificilmente conseguimos recuperar o tempo perdido. Estes obstáculos colocam entraves no desenvolvimento dos projetos e obras, e têm consequências económicas para os nossos clientes, algo que temos tentado atenuar dentro das nossas possibilidades. 

A pandemia levou as pessoas e as empresas a repensarem os espaços. Sentem isso? De que forma?

Sentimos que algumas empresas estão já a repensar o seu espaço de trabalho. Dificilmente se voltará ao mesmo 'layout' de planta de escritório existente antes da pandemia. Necessariamente, foi preciso adaptar os escritórios de forma a cumprir com as novas regras de distanciamento, pelo que irá começar a surgir uma nova configuração de espaço de trabalho.

Surgiram novos projetos? Já impulsionados por esta nova realidade? Por exemplo, fazer um 'home office' em casa, melhorar as varandas/terraços, melhorar espaços de empresas etc...

Sim, já surgiram vários projetos impulsionados por esta nova realidade, temos tido muitos pedidos de consultoria para melhorar espaços de trabalho dentro de casa e adaptações de residências de arrendamento de curta duração para longa duração. 

Temos tido muitos pedidos de consultoria para melhorar espaços de trabalho dentro de casa

Conseguem traçar um novo perfil de procura? 

O nosso perfil de cliente não se alterou com a pandemia, sentimos, contudo, que existe uma maior procura novamente pela renovação da casa própria, em detrimento da troca de casa.

A forma como se pensam as casas vai mesmo mudar no pós-pandemia? De que forma? 

Creio que a maior diferença sobre como pensar a nossa casa está relacionada com a possibilidade de partilha do espaço, durante o período laboral e escolar, com isso quero dizer que será necessário pensar em como o espaço se pode adaptar ao uso simultâneo das várias pessoas que constituem a família, permitindo funcionalidade e privacidade para que todos possam utilizar a casa da melhor forma. Este é o grande desafio das nossas novas casas.

Partindo do vosso mote no SIL 2020. Que dicas dariam a quem quer melhorar a sua casa para o futuro?

O mote que daríamos estaria sempre relacionado com a melhoria da habitabilidade e funcionalidade, ou seja, pensar bem em questões por exemplo como a iluminação natural e artificial, divisão do espaço para criar nichos de trabalho, em resumo, como podemos tirar o melhor partido do que temos em casa?

E o que é que faz falta no espaço público? As atividades ao ar livre acabaram por ser ainda mais valorizadas neste contexto...

Há uma alteração substancial na forma como vivemos agora o espaço público que está mais próximo de nós. Os bairros residenciais passaram a ser também os bairros onde trabalhamos e passamos mais tempo, pelo que é muito importante que o espaço público esteja devidamente preparado para nos acolher. Algumas autarquias acautelaram muito bem estas questões, tendo tido o cuidado de criar zonas de permanência, recreio, jardins que agora estão a ser preciosos para o nosso bem-estar geral. Outras adaptaram rapidamente os procedimentos para que se pudessem criar condições aos negócios de bairro, como novas esplanadas para a área da restauração, que vieram fazer toda a diferença. Mas muito existem ainda para melhorar.

Os bairros residenciais passaram a ser também os bairros onde trabalhamos e passamos mais tempo pelo que é muito importante que o espaço público esteja devidamente preparado para nos acolher

A pandemia é uma oportunidade ou uma ameaça na área da arquitetura? Porquê?

A pandemia não trouxe nem uma ameaça, nem uma oportunidade gritante na área da arquitetura. Se por um lado surgiram novos projetos de investimento, estes seguem uma trajetória já traçada nos últimos anos de reabilitação urbana e reinvestimento nos nossos centros históricos. Acima de tudo, o que muda é o paradigma das cidades e da forma como vivemos, e isso mudará com certeza a forma como fazemos arquitetura.

Que análise fazem do mercado atualmente? E como perspetivam o futuro?

Sentimos que o mercado está expectante. Perspetiva-nos um futuro, a curto/médio prazo, de alguma contenção no investimento imobiliário. Contudo, existem grandes projetos em curso que não pararam, bem como obras que continuaram sem quebra ao longo de todos estes meses, esse trabalho continuará para um futuro próximo. Como em todas as crises, também desta vez será necessária uma adaptação ao mercado. 

Qual o balanço da vossa participação no SIL 2020?

A participação no SIL 2020 foi uma decisão tomada com ponderação, tendo em conta a situação atual. Optámos por um formato de exposição retrospetiva dos trabalhos já efetuados até hoje, de forma a que os visitantes pudessem andar pelo stand livremente sem necessidade de haver um espaço de permanência. Desta maneira, conseguimos que todos se sentissem confortáveis e que as consultorias habituais da feira fossem feitas de forma mais curta sem nos sentarmos na habitual mesa para desenharmos, garantindo assim a segurança de todos e adaptando para consultorias que podem ter seguimento on-line.

Stand da AYH no SIL2020 / AYH
Stand da AYH no SIL2020 / AYH

Parece-nos que nesta altura, é mais importante que nunca mostrar como o setor está a reagir positivamente a todas estas novidades e por esse motivo achámos francamente importante estar na feira. Verificámos, contudo, que houve uma fraca adesão da parte dos grandes stands do mercado imobiliário e fornecedores de materiais, que não marcaram presença na feira, algo que não deveria suceder neste contexto.

Em termos de contactos estabelecidos durante a feira, sentimos uma resposta positiva da parte dos visitantes e criação de negócio. Desde o primeiro ano da empresa que participamos tanto no Sil como na Tektonica (já são 7 anos consecutivos de feiras) e não seria este ano a exceção. Temos muito orgulho em apresentar a nossa equipa nestas ocasiões e se de facto a organização da feira fez um esforço extraordinário para proporcionar a todos um espaço para potenciar negócios e contactos seguros e adaptado aos novos tempos, não iríamos de certeza faltar, o que se revelou uma boa aposta. 





Fonte: site Idealista - https://www.idealista.pt/news/imobiliario/habitacao/2020/11/02/45126-temos-tido-muitos-pedidos-para-melhorar-espacos-de-trabalho-dentro-de-casa#xts=582068&xtor=EPR-1059-%5Bnews_daily_20201103%5D-20201103-%5Bm-01-titular-node_45126%5D-27037011@3

Veja Também
Outras notícias que poderão interessar
Estamos disponíveis para o ajudar Pretendo ser contactado
Data
Hora
Nome
Contacto
Mensagem
captcha
Código
O que é a pesquisa responsável
Esta pesquisa permite obter resultados mais ajustados à sua disponibilidade financeira.